![]() |
Foto: Reprodução |
Aviso
Antes de você começar esta deliciosa e excitante leitura cheia de mistérios, quero que você me prometa que vai procurar um urologista renomado e de boa índole, que examine seus pacientes enquanto usa luvinhas descartáveis, e que você fará todos os exames que lhe forem pedidos.
Eu sei que você está com pedra no rim. Afinal, se não estivesse, não teria se interessado por um artigo fuleiro sobre pedras nos rins escrito por um físico e editado por um estudante de farmácia, que entende tanto de medicina quanto um pigmeu entende sobre anatomia de pinguins.
Escrevi este texto principalmente em cima da minha experiência pessoal com pedras e não possuo mérito ou autoridade quase alguma a respeito deste assunto.
Antes de discutirmos sobre a pedra em si, tenha mais ou menos uma idéia se o que você possui é mesmo pedra no rim.
Devo lembrá-lo enfaticamente que procurar um urologista é primordial, pois os sintomas de pedras nos rins são perfeitamente parecidos com os de apendicite, inflamação ou perfuração intestinal, infecção urinária, gravidez, unha encravada, entre outros. Os sintomas são os seguintes:
- No início, uma dor concussiva tomará conta de suas bolas, como se uma chave inglesa as esmagasse feito rosca de encanamento;
- Alguns momentos depois, haverá uma fisgada lascinante em um dos rins ou talvez em ambos e que com o passar das horas, dias ou semanas, a dor se desloca em direção à virilha;
- Dificuldade para urinar, conhecida como a Síndrome da Cascata Tímida, mesmo que sua bexiga esteja cheia;
- Vontade de roer a própria perna para aliviar a cólica e a subseqüente náusea;
Se você teve três ou mais destes sintomas, então PARABÉNS!
Se prepare, seus próximos dias serão divertidíssimos e cheios de emoção, suor e coquetéis de analgésicos, anti-inflamatórios e litros de chá de quebra pedra.
Introdução
Os cálculos ou pedras renais são depósitos minerais que se formam dentro nos rins e podem estar presentes em várias partes das vias urinárias.
Eles se iniciam como partículas microscópicas e se desenvolvem com o passar do tempo até formarem os cálculos. O termo médico abiscoitado para este problema é nefrolitíase ou urolitíase.
Os rins filtram substâncias químicas vindas do sangue e que não servem mais para o organismo, a maior parte delas tóxicas, e os acrescenta à urina.
Quando estas escórias não se dissolverem completamente na urina, cristais e cálculos renais são formados e o espetáculo começa.
Os cálculos podem ser tão pequenos quanto grãos de areia e serem eliminados do organismo na urina sem causar qualquer desconforto, como também podem ser do tamanho de uma ervilha ou até maiores, causando sintomas assaz incômodos.
A maior pedra no rim já retirada de um ser humano tinha aproximadamente 13cm.
Embora alguns destes cálculos sejam tão grandes que não se desprendem dos rins, outros conseguem migrar pelo fino canal que liga o rim à bexiga, chamado ureter, onde eles são retidos.
Os cálculos renais retidos podem causar muitos sintomas diferentes, incluindo dor extrema (cólica renal), interrupção ou diminuição do fluxo de urina (anúria ou oligúria, respectivamente) e sangramento das paredes das vias urinárias (hematúria).
Os cálculos renais são um problema muito comum, afetando 10% das pessoas no mundo inteiro. Há vários tipos diferentes de cálculos, e uma variedade de razões pelas quais eles se formam.
Os cálculos renais são classificados de acordo com sua composição química. A tabela abaixo relaciona a composição dos cálculos urinários com sua incidência nos casos de calculose renal:
Composição Química | Porcentagem |
Oxalato de Cálcio (puro ou misto) | 75% |
Fosfato Amoníaco Magnesiano (Estruvita) | 10% |
Ácido Úrico | 8% |
Fosfato de Cálcio | 5% |
Cistina | 1% |
Outros | 1% |
Aos 23 anos acabo de ter minha primeira pedra no rim. Como a maioria dos casos de cálculo renal, a minha pedra também é feita de oxalato de cálcio; um cristal de 7mm cheio de pontas e que causa uma cólica inconcebível, como se um cabrito raivoso estivesse tentando atravessar meu ureter, o canal que liga os rins à bexiga e tem 3mm de diâmetro.
Quadro Clínico
Os cálculos renais podem não causar sintomas ou se manifestar de forma aguda como cólica renal, caso sejam suficientemente pequenos.
Quando a pedra alcança um tamanho consideravelmente grande, há quatro estágios que devem ser levados em conta.
Primeiro Estágio
Localização: Rim
Nível de dor: alta
A dor é localizada na lateral das costas e todos os músculos começam a se repuxar, como se a pessoa tivesse levado um soco em um dos rins. A onda inicial de estímulos se propagará por todo sistema urinário, causando um moderado desconforto nos testículos.
Segundo Estágio
Localização: ureter
Nível de dor: “Deus, tire essa coisa de mim!!!”
Ocorre quando a pedra saiu do rim e está no ureter. Imagine um elefante gordinho tentando sair de uma casinha de cachorro e você entenderá 1/3 do que a dor realmente representa.
A sensação é perfeitamente parecida com uma cólica intestinal grave, igual àquelas que você tinha quando era criança depois que comia um saco de biscoito de polvilho sozinho, com a pequena diferença que ela não se resolverá simplesmente indo ao banheiro, e poderá durar entre 15 minutos e 1 hora, retornando em mais ou menos 3 ou 4 horas.
Nesta altura, haverá um pouco de sangue na urina, causando um leve desconforto ao urinar. Quando a pessoa não consegue pensar em algo mais incômodo, ocorre o próximo estágio.
Terceiro Estágio
Localização: final do ureter
Nível de dor: *** PURGATORIAL OVERDRIVE ***
A boa notícia é que, neste estágio, você terá a redenção de todos os pecados cometidos nas últimas 14 vidas. A má notícia é que a pedra estará na parte mais sensível do seu ureter, exatamente na junção com a bexiga.
Este pequeno canal agora estará perfeitamente rasgado, gerando cólicas que farão você perder a força nas pernas e vomitar de dor, e ainda estará mandando bastante quantidade de sangue para sua bexiga, fazendo com que você sinta alfinetadas agudas ao urinar.
Se isso não bastasse, com o ureter obstruído, seu rim reterá mais líquido que o normal, fazendo com que ele fique inchado e com desempenho comprometido, causando a velha dor do Primeiro Estágio.
Além, a pedra é um foco de bactérias, lhe agraciando também com uma leve infecção. Ainda por cima, com um dos rins comprometidos, o seu outro rim começará a trabalhar mais, gerando um pequeno desconforto no lado oposto também.
Esta é a parte mais divertida do percurso.
Quarto Estágio
Localização: bexiga, uretra além
Nível de dor: depois do estágio anterior, isso aqui é como cócegas.
A reta final se aproxima. Não que ela seja confortável, mas você saltitará de alegria quando finalmente a pedra atravessar sua uretra, mesmo que ela carregue consigo um pedaço de sua genitália ao sair.
Com a proximidade do cálculo à bexiga, pode aparecer uma vontade aumentada e constante de urinar (polaciúria) ou uma sensação de ardência ao urinar (disúria). Quando pedras são eliminadas na urina, muitas vezes o paciente pode ver a saída dos cálculos.
O que fazer em caso de desespero
- Ir até o hospital mais próximo. É a solução mais apropriada, uma vez que a automedicação é algo estupidamente perigoso se você for um jacú e não sabe ler bulas e, no caso de cólicas renais, ineficiente na maioria dos casos. Nos meus momentos de crise, não houve remédio que ajudasse senão ser levado a um pronto-socorro e ter tomado Profenid e Tramal na veia. O uso de Buscopan via oral, para as dores abdominais, ficou restrito apenas a quando houver dores chatas, porém suportáveis, já que este remédio é uma bomba para o fígado e o dissolve a uma porção de coalhada cor-de-rosa.
- Água quente. Para alívio imediato, em alguns casos, tenha sempre em mãos uma bolsa de água quente. Alternativamente, deixe a água do chuveiro cair diretamente sobre a região da dor por alguns minutos. A água quente ajudará a dilatar os vasos sangüíneos e a relaxar os músculos, fazendo com que a pedra se sinta menos claustrofóbica e pare de reclamar por alguns instantes.
- Evite bebida gelada. Como você inteligentemente pode supôr, a bebida gelada faz o efeito contrário da bolsa de água quente, enclausurando ainda mais a pedra e causando mais dor que o necessário. Ter tomado sorvete foi o erro mais grave que cometi enquanto estava com a pedra no ureter.
- Pelo amor de tudo que é mais sagrado, não beba suco de abacaxi nem qualquer outro líquido mais ácido, ou você irá gemer um dia inteiro. É sério.
Diagnóstico
A ultra-sonografia dos rins e vias urinárias, a radiografia simples de abdome, a tomografia computadorizada de abdome e a urografia excretora são os exames de imagem mais recomendados para o diagnóstico de litíase renal.
Todos estes exames são simples e rápidos, exceto pela urografia excretora, que exige um dia inteiro de preparação. Você passará por uma dieta rigorosa a base de sopa rala e laxantes para que, no dia seguinte, injetem contraste em você para dar aquele realce na radiografia e sair bem lindão.
Podem ser feitos exames de sangue e de urina para identificar uma causa tratável de cálculos. Se você não tem nenhum sintoma e você encontra um cálculo em sua urina, guarde-o e leve à consulta para mostrá-lo a seu médico.
Ele poderá enviá-lo para o laboratório de análises químicas para ver sua composição. Caso contrário, guarde-a para você e faça um anel de brilhantes como presente para a namorada, tenho certeza que ela irá adorar.
Tratamento
Em muitos casos, um cálculo renal pequeno pode eventualmente ser eliminado pela urina por si só, especialmente se a pessoa bebe bastante líquido.
Sob prescrição médica, a pessoa pode permanecer normalmente em casa, aliviando a dor com analgésicos (Voltaren, Arcoxia, Profenid, Feldene, etc) e antiespasmódicos (Buscopan).
Se você não quiser permanecer em casa, pode ficar nas calçadas do centro da cidade se remoendo de cólicas, enquanto pedestres jogam dinheiro em você.
Cálculos de ácido úrico poderão ser tratados clinicamente com grande ingestão de água, alcalinizantes da urina e substâncias que interferem na sua formação.
Já os cálculos de cálcio não dissolvem dessa maneira. Bem, há quem diga que óleo de terebentina, a mesma substância usada em solventes, as dissolve.
Os únicos remédios sobre os quais obtive informações são o Oleum Harlemse Tell e Pedrim, ambos muito difíceis de serem encontrados.
Porém, se o cálculo for muito grande, se a dor é insuportável ou se houver infecção ou hemorragia significativas, pode ser necessário remover o cálculo ou quebrá-lo em partes menores.
Há várias opções para destruir cálculos alojados nas vias urinárias:
- Litotripsia Extracorpórea por Ondas de Choque (LECO) — Revolucionou o tratamento da litíase urinária devido ao fato de ser pouco invasiva, eficaz e de baixa morbidade. As ondas de choque aplicadas aos cálculos renais fraturam externamente em fragmentos menores devido a um fenômeno chamado cavitação. Os fragmentos são eliminados na urina. Não requer anestesia, quando muito uma sedação, e é realizado no consultório. Para cálculos renais o índice de sucesso é de 80% e para os ureterais é de 85%.
- Litotripsia Percutânea por Ultra-som — Um instrumento semelhante a um tubo estreito é passado por uma pequena incisão nas costas em direção ao rim e ondas de ultra-som irão atingir os cálculos e dividi-los em pequenas partes. Os fragmentos dos cálculos são então eliminados na urina.
- Litotripsia com Laser — Um feixe de laser separa os cálculos no ureter para torná-los mais fáceis de serem eliminados.
- Uretroscopia — Uma sonda endoscópica muito pequena é inserida na uretra e guiada até a bexiga. O cálculo é fragmentado ou então é removido inteiro dependendo do tamanho.
O método será escolhido de acordo com o local em que o cálculo se encontra:
Rim:
- Litotripsia por ondas de choque;
- Litotripsia Percutânea – a energia é aplicada diretamente sobre o cálculo através de um endoscópio que é inserido no rim;
- Cirurgia tradicional com incisão.
Ureter:
- Litotripsia de ondas de choque;
- Litotripsia endoscópica;
- Remoção endoscópica;
- Cirurgia tradicional com incisão.
Bexiga:
- Extração Endoscópica ou litotripsia;
- Cirurgia tradicional com incisão.
É rara a necessidade de cirurgia para remover cálculos renais.
Após os cálculos renais serem eliminados, é possível evitar que eles venham a se formar novamente com o uso de medicamentos ou mudanças na dieta. Por exemplo, medicamentos como os diuréticos tiazídicos (Hidroclorotiazida) podem ser prescritos para algumas pessoas com cálculos renais compostos de cálcio, enquanto algumas pessoas com cálculos de ácido úrico podem ser tratadas com Alopurinol (Zyloric ®).
A Química da Litíase
Cálcio
A grande maioria dos cálculos renais são constituídos de cálcio e oxalato. Entretanto a sua restrição dietética não é aconselhável, na grande maioria dos casos, ao contrário do que se praticava até recentemente.
A baixa ingestão de cálcio poderá favorecer a formação de cálculos renais e manter as taxas de recidiva tão aumentadas como as relatadas anteriormente.
A provável explicação para este mecanismo é conseqüência de que há na luz intestinal uma maior liberação de oxalato para ser absorvido.
Esta maior absorção de oxalato levaria a uma maior excreção do mesmo, favorecendo a supersaturação e a formação de cristais de oxalato de cálcio, iniciando-se assim toda a cascata fisiopatogênica da litíase renal.
Na presença de maiores quantidades de cálcio, o oxalato se liga a este, e ambos são então excretados pelas fezes.
A baixa ingestão de cálcio causa também maiores riscos de osteopenia, uma vez que a excreção renal do cálcio é mantida, mesmo com baixos níveis deste nutriente e assim estes indivíduos têm um balanço negativo de cálcio, além de apresentarem níveis elevados de calcitriol.
Sódio
A excreção urinária aumentada de sódio se associa com a elevação também de cálcio urinário, provavelmente devido a uma competição na absorção entre esses minerais ao longo do túbulo renal.
Interessante notar que Goldfarb sugeriu que indivíduos com nefrolitíase são mais sensíveis ao efeito hipercalciúrico do sódio dietético.
Outro fator importante é a relação inversa entre fósforo plasmático e o sódio urinário, ou seja a hipernatriúria se associa a hipofosfatemia o que poderia levar a outros mecanismos litogênicos, como aumento do calcitriol plasmático e consequente hipercalciúria.
Potássio
Foi também observado no trabalho de Curhan e cols., que o grupo de indivíduos que ingeriu pouco potássio (2,8g/dia), o risco de desenvolver cálculos renais era significativamente maior de que quando comparado ao grupo de homens que ingeriu muito potássio (4,1g/dia).
Ao que parece a presença de potássio diminuiria a excreção de cálcio urinário, além de que os alimentos ricos neste mineral tendem a ser alcalinos, o que aumentaria o citrato urinário.
Oxalato
O oxalato urinário parece ser mais importante do que o cálcio para a formação de cálculos, uma vez que pequenos aumentos na concentração de oxalato levam a saturação urinária e conseqüente formação de cristais, iniciando-se assim toda a cascata fisiopatogênica da nefrolitíase.
O oxalato proveniente da dieta contribui com apenas 10 a 20% da excreção do oxalato urinário. Para que possa ocorrer hiperoxalúria decorrente da dieta, seria necessária, na grande maioria das vezes, uma ingestão exagerada de alimentos muito ricos em oxalato, o que é raro na nossa população.
É, no entanto, importante correlacionar-se a ingestão de oxalato com a sua excreção urinária, antes de se definir a orientação nutricional com restrição ou não de alimentos ricos em oxalato.
Outro aspecto importante do metabolismo do oxalato é a sua excreção aumentada na presença de altas doses de vitamina C.
Nos dias de hoje, aonde parece haver uma tendência ao uso exagerado de megadoses de vitamina C deve-se chamar a atenção para este fenômeno, uma vez que 40% do oxalato urinário se origina do ascorbato dietético, sendo que 1 mg de oxalato é produzido a partir de 1 g de ascorbato, 12 mg a partir de 4 mg e 68 mg a partir de 9 mg, respectivamente.
Magnésio
Parece que o magnésio interfere na formação de cristais de oxalato de cálcio através de um mecanismo não conhecido.
Proteínas
Foi estudado um grupo de homens que ingeriu pequena quantidade de proteína animal (50g/dia). Foi observado que esta população apresentou um risco significativamente menor de formação de cálculos quando comparado com o grupo que ingeriu uma quantidade maior de proteínas (77g/dia).
Sabidamente, a ingestão de proteína irá causar um aumento da massa renal, a carga de sulfato filtrado na urina irá aumentar e consequentemente se desenvolve uma acidose metabólica.
O aumento da massa renal irá aumentar o calcitriol plasmático levando a um aumento da absorção intestinal de cálcio com consequente aumento da carga de cálcio filtrada e a hipercalciúria pós prandial.
Por outro lado, o aumento da carga de sulfato filtrado na urina irá se adicionar com o cálcio urinário dificultando sua absorção tubular levando consequentemente a hipercalciúria de jejum.
A acidose metabólica que se desenvolve causará hipocitratúria, diminuição da absorção tubular de cálcio levando a hipercalciúria em 24 horas. Além disso, a acidose metabólica levará a um quadro de osteopenia por aumentar a reabsorção óssea.
O excesso de proteína animal aumentará também a secreção de acido úrico urinário. Dessa forma teremos vários fatores que irão contribuir para a formação de cálculos renais a saber: hipercalciúria, hiperuricosúria e hipocitratúria.
Purinas
Quando ocorre um excesso dietético das purinas, capaz de levar a hiperuricosúria, isto poderá induzir a cristalização de cristais de urato ou mesmo de sais de cálcio iniciando-se assim a formação de cálculos homogêneos ou heterogêneos.
Vários estudos sugerem que pacientes hiperuricosúricos apresentam uma ingestão maior de carnes, peixes e aves e que após a redução destes alimentos o estado de hiperuricosúria desaparece.
Carboidratos
Tem sido demonstrado que o consumo de carboidratos, como a glicose, poderia elevar a excreção urinária de cálcio e oxalato. O mecanismo pelo qual este efeito se verifica ainda não está totalmente definido.
Acredita-se que o excesso de carboidratos na alimentação diminuiria a absorção de fosfato intestinal, levando a hipofosfatemia e conseqüente aumento do calcitriol plasmático implicando em aumento da absorção intestinal de cálcio e simultâneo aumento de absorção de oxalato.
Parece, também, que os carboidratos estimulariam a síntese endógena de oxalato, que será posteriormente, excretado na urina. Além do mais, muitos alimentos ricos em carboidratos são também ricos em oxalato.
Fibras vegetais
A ingestão de fibras no mundo ocidental tem diminuído progressivamente. O seu papel na gênese da nefrolitíase parece ser via metabolismo do citrato, uma vez que existe uma correlação positiva entre a baixa excreção de citrato e a baixa ingestão de fibras.
Uma outra possibilidade seria de que as fibras se ligariam ao cálcio no trato gastrointestinal, diminuindo a absorção intestinal deste mineral e conseqüente diminuição da excreção renal.
Alguns trabalhos têm mostrado a direta correlação entre prevalência aumentada de litíase renal e baixa ingestão de fibras.
Gorduras
O exato mecanismo pelo qual a ingestão de gorduras seria mais um dos fatores litogênicos ainda parece obscuro.
Na realidade, o que se sabe é que aqueles indivíduos que ingerem grande quantidade de gorduras são em geral consumidores de grande teores de proteínas.
Simultaneamente, consomem também pequenas quantidades de fibras. No entanto, parece haver um mecanismo direto entre a absorção de oxalato e de cálcio e a presença de gorduras.
A excessiva ingestão de gorduras causaria um aumento de ácidos graxos livres intestinais, estes se combinariam com o cálcio, diminuindo assim a concentração deste mineral na luz intestinal com conseqüente diminuição de sua disponibilidade para se unir ao oxalato.
Logo, haveria um aumento de oxalato livre para ser absorvido.
Bebidas
A ingestão aumentada de líquidos parece ter uma correlação inversa com o risco de formação de cálculos renais, no entanto o assunto é ainda controverso.
O tipo de bebida ingerida parece também influenciar no mecanismo litiásico. Assim sendo, um estudo caso-controle de 1985 sugeriu que o uso de bebidas carbonadas aumentou o risco de formação de cálculos.
Este estudo foi posteriormente corroborado por um trabalho clínico randomizado aonde se demonstrou que a restrição à ingestão destas bebidas diminuiu em 6,4% o índice de recorrência de episódios litiásicos no grupo orientado a diminuir o consumo.
Sem dúvida alguma, existem outros aspectos a serem analisados e que podem ter interferido nos resultados, dos quais o fato que as bebidas com cola possuem alto teor de oxalato.
Assim , a dúvida é se todas as bebidas carbonadas interferem no mecanismo litiásico ou se apenas as com esta substância.
As bebidas ricas em cafeína e as cervejas parecem ter um efeito protetor na gênese da litíase renal.
Este estaria relacionado com o fato de que ambas interferem com a ação do hormônio antidiurético no nefron distal, resultando num fluxo urinário aumentado e uma urina mais diluída.
Fonte: Nutrição e Litíase, Augusto Menezes da Silva; Maria Isabel T. D. Correia
Prevenção
Em geral, pode-se ajudar a prevenir os cálculos renais tomando bastante líquido e evitando a desidratação. Isto dilui a urina e diminui as chances das substâncias químicas se combinarem e formar os cálculos.
A ingestão de líquidos deve ser de dois a três litros por dia, o necessário para urinar pelo menos dois litros por dia. O ideal é que essa ingestão de líquidos seja homogênea durante as 24 horas.
Se o paciente apresenta algum distúrbio metabólico intestinal, interferir na dieta, por exemplo, pode ser uma boa solução. Alguns fatores dietéticos estão relacionados com a maior produção de cálculos renais (Low-sodium, low-animal protein diet effective in reducing kidney stones, L. Borghi, T. Schianchi, T. Meschi, et al.).
Pesquisei na Internet alguns alimentos que aumentam os riscos de pedras nos rins. Não que eu queira ser o mensageiro de péssimas notícias, olhe lá, mas aposto que boa parte de tudo que está nesta lista você adora e ingere quase o tempo todo.
Cereais
Grãos instantâneos (arroz ou feijão pré-prontos) – sódio
Amendoim – sódio, oxalato
Farinha – fosfato
Alguns derivados da soja – oxalato (Oxalate and phytate of soy foods, AL-WAHSH Ismail A., HORNER Harry T., PALMER Reid G., REDDY Manju B., MASSEY Linda K.)
Petiscos
Bolachas salgadas – sódio
Snacks em geral – sódio
Alimentos Instantâneos
Miojo – sódio
Lasanha congelada – sódio
Pizza congelada – fosfato
Carnes
Todas (vermelha ou branca) – sódio, oxalato
Vegetais e Frutas
Vegetais pré-cozidos e sucos enlatados – sódio
Tomate (molho ou extrato) – sódio, oxalato
Frutas cristalizadas
Amora – oxalato
Figo – oxalato
Kiwi – oxalato
Casca de limão e laranja – oxalato
Beterraba – oxalato
Cenoura – oxalato
Chicória – oxalato
Escarola – oxalato
Oliva – oxalato
Batata – oxalato
Espinafre – oxalato
Leite e Derivados
Leite Integral – sódio
Queijos comuns – sódio, fosfato
Óleos e Temperos
Gordura de porco – sódio
Molhos para saladas – sódio
Pimentas preparadas comercialmente – sódio, oxalato
Sobremesas
Chocolates – sódio, oxalato
Chocolate amargo – oxalato
Chocolate em pó – fosfato, oxalato
Sorvetes – fosfato, oxalato
Maionese – fosfato
Doces em geral – oxalato
Bebidas
Água gaseificada – sódio
Refrigerantes – sódio
Refrigerantes a base de cola – sódio, fosfato, oxalato
Cerveja escura – oxalato
Chá preto – oxalato
Café instantâneo (Ex.: Nescafé) – oxalato
Ovomaltine – oxalato
Bebidas a base de soja – oxalato
Condimentos
Sal de cozinha – sódio
Caldo de carne e amaciantes – sódio
Molho tártaro – sódio
Ketchup – sódio, fosfato
Vinagre – sódio
Mostarda – sódio
Glutamato Monosódico (Ajinomoto) – sódio
Obviamente é quase impossível evitar todos esses alimentos, no máximo é possível diminuir a ingestão diária deles. Portanto, a melhor saída ainda é se encher de água o tempo todo, ainda mais no calor, quando urinamos menos por perder muita água através da transpiração.
Pode-se prevenir a formação de cálculos de oxalato de cálcio ingerindo leite desnatado e outros alimentos ricos em cálcio.
Porém, consumir suplementos à base de cálcio podem aumentar o risco de formação dos cálculos. O cálcio na dieta liga-se ao oxalato dentro dos intestinos e diminui a quantidade de oxalato que entra no sangue, com isso, há uma menor eliminação na urina.
Prognóstico
Quando um cálculo renal é retido no ureter, ele pode permanecer lá até ser removido, ou eventualmente pode mover-se em direção à bexiga e ser eliminado na urina sem “ajuda”. Pode levar horas, dias ou semanas para um cálculo ser eliminado.
Via de regra, os cálculos menores têm mais chance de serem eliminados espontaneamente. Os cálculos maiores permanecerão retidos no ureter, causando obstrução do fluxo de urina, causando dor, sangramento e eventualmente infecção.
As pessoas que já tiveram um cálculo renal têm uma chance de 50% de desenvolver um novo cálculo nos próximos 5 a 10 anos, mas os outros 50% que eliminaram o cálculo jamais terão um segundo.
Pedra no rim, você ainda vai ter uma.
Fonte: Artigo retirado do site Nebulosa Nerds Bar que descreve o sofrimento do autor do site e sua primeira pedra.
Comentários
Postar um comentário